Encenação Igor Gandra
Música Fernando Rodrigues
Cenografia Igor Gandra e Frederico Godinho
Desenho de Luz Rui Maia
Figurinos Bianca Bast
Vídeo e Marionetas TdF (câmara e edição – Virgínia Moreira)
Interpretação Carla Veloso, Igor Gandra, Gil Rovisco e Virgínia Moreira
Direcção de montagem Frederico Godinho e Virgínia Moreira
Oficina de construção Gil Rovisco, Nuno Bessa, NiKola, Vadym Furyk, Américo Castanheira | Tudo Faço, Maria Manuela N. Ribeiro, Lda.
Design gráfico Miguel Neiva
Produção Teatro de Ferro
CE M/12 anos
Duração do espectáculo 50 minutos
Quase Solo é uma incursão no campo da maquinaria de cena, dentro da lógica marionetística que caracteriza o trabalho do Teatro de Ferro. Foi através do conceito de espaço-vivente, que procurámos um espectáculo que se inscrevesse em diferentes escalas. A marioneta, o objecto, o actor/manipulador e o espaço de cena interagem de um modo em que a ordem entre contentor e contido, manipulador e manipulado, nem sempre é evidente. Em Quase Solo aceitamos e recusamos alternadamente uma cena ilusionista, propondo ao observador/espectador convenções de tipo diverso, que projectam algumas possibilidades sobre o que é visível e o que é invisível. Quase Solo está algures “entre o Poltergeist e o Zeitgeist ”.
Quase Solo foi construído em ferro e materiais sintéticos . É neste ambiente mecânico e estéril (esterilizado) que a acção se afirma enquanto tentativa de ruptura. Uma das características particulares deste processo é a relação aprofundada com a matéria enquanto tal. O título Quase Solo revela-se na decomposição nas duas palavras que o compõe: a proximidade na distância e o intérprete actuando. Quase Solo é também o palco, um quase-chão.
Esta peça tem na sua origem mais remota uma intrigante e libertadora brincadeira de criança-do-final-da-guerra-fria: a fantasia pós-apocalíptica de brincar último homem na terra.
Este exercício de imaginação tão negro quanto radical, por parte de uma criança (tenho a certeza absoluta de que não era o único a fazê-lo), foi inspirado por diversas obras literárias, cinematográficas e televisivas, o inferno da vida dos sobreviventes no filme The Day After, ou a descrição dos campos de papoilas negras durante a passagem da nave dos cosmonautas terrestres por um planeta outrora habitado por uma civilização que se auto destruiu, em A Nebulosa de Andrómeda, são dois exemplos.
O medo da deflagração de uma guerra nuclear entre os EUA e a URSS permeava o imaginário colectivo de ambos os lados. O espectro da aniquilação da espécie humana migrou, ou foi transferido, para outras paragens quando, entretanto, o aclamado fim da história (não)chegou. Uma outra narrativa percorre Quase Solo. Trata-se de um sonho, ou talvez de um conto que não cheguei a escrever, em que um bombista suicida se faz explodir numa cidade. E fá-lo com tanta intensidade que os seus pedaços se espalham por toda a cidade. O fantasma do terrorista regressa para, sem sucesso os tentar recuperar e é ao falhar nesse gesto que deixa de se tentar narrar.
Igor Gandra